Wednesday, 7 April 2010

AUTOCONHECIMENTO e REVOLUÇÃO nas(das) CONSCIÊNCIAS

“… Por não sermos realmente sérios, somos muito superficiais, fáceis de distrair e de satisfazer. Mas, para pesquisar profundamente em nós mesmos, temos de ser extremamente sérios e continuar nessa seriedade. E isso requer energia, não se pode ser sério se não se tem energia. Essa energia não pode ser esporádica, acidental, mas uma energia constante, capaz de observar um facto tal como é, e de seguir esse fato até ao fim – uma energia espantosa, tanto da mente como do corpo.
E para se ter energia, não deve haver conflito, porque o conflito é o principal factor de deterioração. Somos pessoas que foram criadas para viver com o conflito (isto é, em conflito). Toda a nossa vida é conflito – dentro e fora de nós – com o próximo, com nós mesmos e nas nossas relações. Tudo o que tocamos, tanto psicológica como ideologicamente, gera conflito. E o conflito é o mais importante fator de deterioração.
Compreender este conflito, não parcial mas totalmente é, parece-me, a tarefa prioritária (uma das tarefas prioritárias) da mente humana. Porque só quando o conflito cessa completamente, é que termina toda a ilusão, só então a mente pode penetrar muito profundamente na investigação da Verdade, no investigar se existe algo além do tempo. E só essa mente é capaz de descobrir o que é o amor (Amor), e de descobrir aquele estado da mente que é verdadeiramente criador – porque de outra forma só há especulação. A mente (verdadeiramente) religiosa (de religar) não especula, move-se apenas de fato para facto. E o fato não pode ser observado se há conflito ou tensão (não existe uma tensão boa?) de qualquer espécie.
… E a vida realmente religiosa (plenamente integrada) é aquela que vivemos com a compreensão do conflito, e portanto libertos do conflito.
… Na realidade interior e exterior não estão separados. O mundo não está separado de vós e de mim; nós somos o mundo e o mundo é nós. Não se trata de uma teoria; se observarmos bem, veremos que é um facto real. (Para Krishnamurti os fatos são quase tudo, as opiniões quase nada. Isto não é um FAcTO)?
… O conflito surge, certamente, quando há contradição – contradição de diversos desejos, de exigências várias, tanto conscientes como inconscientes. Geralmente apercebemo-nos desses conflitos. Mas se nos apercebemos não temos resposta para eles; assim fugimos deles, evadimo-nos para a religião, para o trabalho social, para várias formas de entretenimento, como ir ao templo (catedral ?), ir ao cinema ou beber. Mas só é possível resolver estes conflitos quando a mente é capaz de se COMPREENDER A SI MESMA.
… Para compreender o conflito temos de nos observar a nós mesmos. E A OBSERVAÇÃO REQUER atenção cuidadosa. ESSA ATENÇÃO significa COMPREENSÃO, AFEIÇÃO (afeição): como quando se gosta e se cuida de uma criança – não há rejeição, não há condenação. Cuidar afectuosamente de uma criança (Não faz sentido bater numa criança, por ser criança) é observar a criança, sem a condenar, sem a comparar. É observá-la com infinita afeição, com imensa compreensão; é estudá-la em todas as suas atividades, em todas as suas diferentes fases, nas suas travessuras, nas suas lágrimas, nos seus risos.
Observar exige pois atenção compreensiva. Assim, esta atenção é a primeira coisa que precisamos de ter na completa observação de nós mesmos, e portanto NEM POR UM MOMENTO DEVE HAVER CONDENAÇÃO, JUSTIFICAÇÃO OU COMPARAÇÃO, mas só a AUTO-OBSERVAÇÃO pura e simples do que está a ter lugar em cada momento… Temos de observar-nos tão completamente, com tão infinito cuidado, que desse cuidado nasça a PRECISÃO, UMA PRECISÃO TOTAL – e não ideias vagas e acção ineficaz.”

In: págs. 23 a 26 de: “O Despertar da Sensibilidade”, de Krishnamurti, da Editorial Estampa, Lisboa, 1992

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