Friday, 28 May 2010

A tão propalada crise de que todos os dias falam nos meios de comunicação e em quase todo o lado parece ter as características não de uma crise real, mas antes de uma crise inventada, de palavras, de ideias e teorias. Pois, quando há mesmo uma crise real, de saúde, por exemplo, a nossa reação é diferente. Não ficamos nós, numa destas crises verdadeiras completamente atentos de uma atenção e cuidado profundos de olhos, nervos, ouvidos e coração, uma atenção e um cuidado de todo o nosso ser? Não há, nem é preciso haver, na crise verdadeira, ninguém para nos dizer o que fazermos.
Cessa então todo o tempo, e, o cuidado e a atenção são extremos. E, com esta atenção e cuidado totais, em que o pensamento cessa, uma percepção imediata, espontânea surge, seguida da ação perfeita e correta.
Entretanto, no momento em que começamos a pensar na crise, mesmo na verdadeira, todo o erro, medo e sofrimento retornam.
Compreender a completa natureza das crises, não medidas de austeridade ou outras idênticas, é a única maneira de elas acabarem.
O tempo é o intervalo entre ações da mente... E, infelizmente, os motivos, os ideais, os objectivos e as fórmulas, quase sempre a causa do sofrimento, são geralmente a única coisa situada nesses intervalos.
Hoje, agora ainda não sou... Mas um dia serei? Demasiado, demasiado grande intervalo entre o pensamento e a sua concretização... Causa da contradição, do conflito, da aflição.
O original, o novo, o puro, o saudável, o belo... Não pertence ao tempo. Sempre original, novo, puro, saudável, sem tempo, presente e belo é que é portanto Bom! Com K.

Monday, 17 May 2010

“Esta meditação não pode ser aprendida por ninguém; deveis começar desconhecendo tudo sobre ela, e, mover-vos no campo da inocência. O campo em que a mente meditativa pode ter início é o campo da vida do dia a dia; o conflito, a dor e a alegria fugaz. Ela deve começar a produzir ordem aí, e, a partir daí mover-se infinitamente. Mas se vos empenhardes somente no estabelecimento da ordem então essa mesma ordem produz a sua própria limitação, e a mente será sua prisioneira. Em todo este movimento deveis, de algum modo, começar da “outra ponta” – da outra margem - e não estardes sempre preocupados com esta, ou em “como atravessar o rio”. Deveis dar um mergulho (talvez tapando o nariz) nessa água, mesmo não sabendo nadar. Além disso, a beleza da meditação está em nunca sabermos onde estamos, nem onde vamos, nem qual o fim.
Surgirá uma nova experiência através da meditação? O desejo de experiência – a experiência mais elevada que se situa acima e além do diário e do vulgar é o que mantém esse estado de florescimento vazio (por acontecer). A ânsia de mais experiências, visões, percepções mais elevadas uma ou outra forma de realização, isso leva a que a mente olhe para o exterior, o que não é distinto da sua dependência do meio em que se insere e das pessoas.
Outra parte curiosa de meditação é a de que uma ocorrência não se transforma em experiência; situa-se ali, tal como uma nova estrela nos céus, sem que a memória se aposse dela e a sustente (e a mate) e sem o processo habitual do reconhecimento, em termos de preferência ou aversão. A nossa busca é sempre extrovertida: ao buscarmos uma experiência qualquer a mente é sempre extrovertida. Verdadeira introspeção significa não buscar, absolutamente, mas, sim perceber. A resposta (à busca) é sempre repetitiva porque procede sempre da mesma “base de dados” da memória.” K e j

Tuesday, 11 May 2010

“ Ela já está para lá das colinas e dos vales; então a narrativa torna-se algo pertencente ao passado, e portanto não mais aquilo que está a acontecer.
Podemos descrever algo de modo acurado, como um evento, mas o próprio modo de descrever isso torna-se inadequado quando a coisa já se afastou. A exatidão da memória é um facto, porém a memória é o resultado de algo que já aconteceu. Se a mente acompanha a corrente de um rio não tem tempo para a sua descrição nem tempo para deixar que a lembrança se forme. Quando este género de meditação ocorre têm lugar numerosas coisas que não são projeção do pensamento. Cada sentimento é totalmente novo no sentido de que a memória não o consegue reconhecer; e como não o consegue reconhecer isso não pode ser traduzido em palavras nem em memória. É algo que nunca aconteceu antes. Isso não é uma experiência; experiência implica reconhecimento, associação e acúmulo soba a forma de conhecimento. É evidente que certos poderes são libertados, mas estes tornam-se um enorme perigo se a sua ocorrência tiver lugar na atividade auto-centrada. Quer tais atividades sejam identificadas com conceitos religiosos ou com tendências pessoais.
É absolutamente necessário que estejamos livres do “eu” para que a coisa real ocorra. Porém o pensamento é demasiado astuto e extraordinariamente subtil nas suas atividades e a menos que estejamos tremendamente despertos e destituídos de escolha no meio de todas essas sutilezas e astutas buscas, a meditação torna-se uma questão de poderes além dos meramente físicos. Todo o sentido de importância da ação do eu conduz inevitavelmente à confusão e à tristeza. Eis pelo que, antes de considerarmos a meditação, temos de começar pela compreensão de nós mesmos, da estrutura da natureza do nosso pensamento. De outro modo perder-vos-eis e esbanjareis as vossas energias. Portanto, para ir longe deveis começar perto: o primeiro passo é também o último.
Meditação não é uma coisa diferente do viver do dia a dia; não vos abandoneis num canto do quarto a meditar (muito menos a rezar\orar) por dez minutos, para depois do ato sairdes e vos comportardes como carniceiros – tanto como uma metáfora , quanto uma realidade. A meditação é uma das coisas mais sérias. Podemos fazê-la durante no escritório (nos campos, na fábrica, na escola) ou junto da família, quando dizeis a alguém “amo-te” ou quando vos interessais pelos vossos filhos. Mas depois educais os vossos filhos para se tornarem soldados e para matar, para se tornarem nacionalistas e para adorarem a bandeira (ou qualquer outro símbolo) de modo a entrarem nessas armadilhas do mundo actual.
Se observarem tudo isso, e tomarem consciência da vossa parte em tudo isso, isto faz tudo parte da meditação. E, se meditardes assim, encontrareis nisto uma extraordinária beleza; atuareis corretamente em todas as situações e, se não agirdes corretamente num dado momento, isso não tem importância pois sempre podereis fazê-lo uma outra vez – mas não perdereis tempo com o remorso. A meditação é parte da vida (é a vida mesmo) e não uma coisa diferente dela.
Temos de alterar a estrutura da sociedade, sua injustiça e moral aterradoras, as divisões que criou entre o homem, as guerras, a falta total de afeto e amor que aniquila o mundo. Se a nossa meditação for somente uma questão pessoal, uma coisa que desfrutamos pessoalmente, nesse caso não se trata de meditação. A meditação implica uma mudança completamente radical da mente e do coração, mas isso só é possível quando existe esse extraordinário sentido de silêncio interior; só isso produz a mente (verdadeiramente) religiosa. Essa mente conhece o sagrado.” K e j
MEDITAÇÃO não é prece nem concentração

“… Nesta questão da prece há um outro fator envolvido: a resposta do que chamamos voz interior… (apesar da grande importância da auto-informação recebida pela percepção direta, instantânea do sub-consciente, quando a mente consciente fica muito quieta, serena, sem esforço, sem esmiuçar, a chamada «voz interior» pode ser, é geralmente fonte de engano, de ignorância de ilusão)… Quando a mente suplica, pede, está relativamente serena; quando ouvimos a voz interior, trata-se da nossa própria voz projetando-se a si mesma na mente mais ou menos tranquila. Essa voz tem muito pouco a ver com a Realidade, Deus. A mente confusa, ignorante, que se apega, que exige não pode compreender a Realidade… Só quando a mente está totalmente serena, quando o desejo cessa, só então a Realidade se manifesta.
A pessoa que pede, que suplica, que anseia por orientação, encontra aquilo que busca, mas isso não é a Verdade. O que recebe é a resposta dos níveis inconscientes da sua própria mente que se projetam a si próprios para dentro do consciente…
(Concentração esforçada também não é grande coisa, pois é exclusivista e distrai, contrariamente à atenção total, que, esta sim, tem muito a ver com a meditação). Na concentração tentamos concentrar-nos em algo em que não estamos interessados, e os nossos pensamentos continuam a multiplicar-se, a aumentar, a interromper, e assim gastamos a nossa energia a excluir, a desviar, a empurrar… Seguramente que isso não é meditação, não é verdade?...
Assim, o que é meditação? Seguramente que meditação é compreensão – meditação do coração é compreensão. Como pode haver compreensão se houver exclusão… Pedidos … Súplicas. Na compreensão há paz, há liberdade; daquilo que compreendemos ficamos libertos…. Prece e concentração somente conduzem à obstinação, à fixação, à ilusão. É a meditação, na qual há compreensão, que gera liberdade, luz e integração.
… Compreensão quer dizer dar o correto significado, o correcto valor a todas as coisas. Ser ignorante é atribuir valores errados; a própria natureza da estupidez é a falta da compreensão dos valores corretos. A compreensão acontece quando há valores corretos, quando estes se estabelecem.
… Aquele que pensa e meramente pede, reza ou exclui, sem se compreender a si mesmo, vai cair inevitavelmente em confusão, em ilusão.
O começo da meditação é o autoconhecimento, que é estarmos atentos a todo o momento ao movimento do pensamento e do sentir, conhecendo todos os níveis da consciência, não apenas os níveis superficiais, mas os ocultos, as atividades dissimuladas mais profundas. Para reconhecermos essas actividades, os motivos escondidos, as reações, os pensamentos e os sentimentos, tem de haver tranquilidade, serenidade na mente consciente para que possa receber a projeção do inconsciente. A mente superficial e consciente está ocupada com as suas atividades diárias, como ganhar a vida, com o enganar os outros, explorando os outros, fugindo … Esta mente não pode encontrar a tranquilidade, essa quietude, através de métodos, por compulsão ou por disciplina. Ela atinge a tranquilidade, a paz, a quietude, apenas pela compreensão das suas próprias atividades, pela observação dessas ideias, pela atenção a elas, vendo a sua crueldade, o modo como se fala a um empregado, à mulher, à filha, à mãe, etc…. Através da compreensão ela torna-se espontaneamente quieta, não drogada pela compulsão ou manipulada pelo desejo; está então em posição de receber a mensagem, os sinais do inconsciente, vindos dos muitos e ocultos níveis da mente (assim como existem as fezes sociais, há também os intelectuais e a inconsciência social) – os instintos raciais, as memórias enterradas, as perseguições dissimuladas, as feridas profundas ainda por cicatrizar. Só então, quando tudo já se projetou e foi compreendido, quando toda a consciência se livrou dos fardos, das feridas, de qualquer memória, é que a mente está em condições de receber o Eterno…” K e J

“As palavras “vós” e “eu” distinguem as coisas. Essa divisão não existe nesta quietude e neste estranho silêncio. À medida que olhávamos pela janela parecia que o tempo e o espaço tinham chegado ao fim, e o espaço que divide não tinha qualquer realidade. Aquela folha, o eucalipto, a água resplandecente não eram diferentes de vós.
A meditação é realmente muito simples. Nós complicámo-la movendo uma teia de ideias em torno disso – em termos do seja ou deixe de ser – porém não se trata de nenhuma dessas coisas. Mas porque é bastante simples escapa-nos, devido às nossas mentes se terem tornado demasiado complicadas e de se encontrarem gastas, fundadas como estão no tempo. Essa mente define a atividade do coração, o que faz com que o problema surja. Contudo a meditação sobrevém naturalmente e com extraordinária facilidade quando caminhamos pela areia (almoçamos à beira mar, lemos estas coisas…), ou olhamos por uma janela ou percebemos as colinas maravilhosas queimadas pelo sol do verão passado.
Porque somos seres humanos torturados de lágrimas nos olhos e riso constrangido nos lábios? (Talvez pelo estúpido egoísmo de tantos ainda; pelo amor incondicional de outros…) Se pudésseis percorrer a sós aquelas colinas ou os bosques, as extensas areias brancas, nessa solidão saberíeis o que é a meditação. O êxtase da solidão sobrevém quando deixamos de estar assustados por nos sentirmos sós – não mais percebendo o mundo ou o que quer que seja, por causa do apego. Então, à semelhança do despontar do dia que sucedeu hoje, ele sobrevém silenciosamente traça um trilho dourado no próprio silêncio, silêncio que existia no princípio (se é que houve princípio), que ocorre agora e que sempre existirá” K e J

“Meditação não é concentração – com sua exclusão – nem corte de separação, nem um ato de resistência ou conflito. A mente meditativa pode concentrar-se, mas nesse caso não se trata de um acto de exclusão nem de resistência; porém, uma mente concentrada não é capaz de meditar.
Na compreensão da meditação existe amor, mas esse amor não é produto de sistemas, nem de hábitos, nem de seguir um método. O amor não pode ser cultivado pelo pensamento. O amor pode talvez chegar a existir quando há completo silêncio, um silêncio no qual o meditador está completamente ausente; mas a mente só pode ficar em silêncio quando compreende o seu próprio movimento como pensamento. Para compreendermos este movimento do pensamento e do sentimento não pode haver condenação na observação. Observar desse modo é disciplina e essa forma de disciplina é fluida e livre, e não a disciplina do ajustamento (ou reformas).
A meditação é um movimento no e do Desconhecido. Vós não estais lá mas tão só o movimento que existe. Nós somos demasiado insignificantes ou demasiado importantes para esse movimento. Ele não tem nada por detrás nem defronte. É essa energia que o pensamento e a matéria não pode tocar. O pensamento é perversão pois é um produto do ontem; está preso na lide dos séculos e portanto é confuso e obscuro. Façamos o que fizermos, o conhecido não pode chegar ao desconhecido. Meditação é o terminar do desconhecido.” K e j
MEDITAÇÃO não é prece nem concentração

“… Nesta questão da prece há um outro fator envolvido: a resposta do que chamamos voz interior… (apesar da grande importância da auto-informação recebida pela percepção direta, instantânea do sub-consciente, quando a mente consciente fica muito quieta, serena, sem esforço, sem esmiuçar, a chamada «voz interior» pode ser, é geralmente fonte de engano, de ignorância de ilusão)… Quando a mente suplica, pede, está relativamente serena; quando ouvimos a voz interior, trata-se da nossa própria voz projetando-se a si mesma na mente mais ou menos tranquila. Essa voz tem muito pouco a ver com a Realidade, Deus. A mente confusa, ignorante, que se apega, que exige não pode compreender a Realidade… Só quando a mente está totalmente serena, quando o desejo cessa, só então a Realidade se manifesta.
A pessoa que pede, que suplica, que anseia por orientação, encontra aquilo que busca, mas isso não é a Verdade. O que recebe é a resposta dos níveis inconscientes da sua própria mente que se projetam a si próprios para dentro do consciente…
(Concentração esforçada também não é grande coisa, pois é exclusivista e distrai, contrariamente à atenção total, que, esta sim, tem muito a ver com a meditação). Na concentração tentamos concentrar-nos em algo em que não estamos interessados, e os nossos pensamentos continuam a multiplicar-se, a aumentar, a interromper, e assim gastamos a nossa energia a excluir, a desviar, a empurrar… Seguramente que isso não é meditação, não é verdade?...
Assim, o que é meditação? Seguramente que meditação é compreensão – meditação do coração é compreensão. Como pode haver compreensão se houver exclusão… Pedidos … Súplicas. Na compreensão há paz, há liberdade; daquilo que compreendemos ficamos libertos…. Prece e concentração somente conduzem à obstinação, à fixação, à ilusão. É a meditação, na qual há compreensão, que gera liberdade, luz e integração.
… Compreensão quer dizer dar o correto significado, o correcto valor a todas as coisas. Ser ignorante é atribuir valores errados; a própria natureza da estupidez é a falta da compreensão dos valores corretos. A compreensão acontece quando há valores corretos, quando estes se estabelecem.
… Aquele que pensa e meramente pede, reza ou exclui, sem se compreender a si mesmo, vai cair inevitavelmente em confusão, em ilusão.
O começo da meditação é o autoconhecimento, que é estarmos atentos a todo o momento ao movimento do pensamento e do sentir, conhecendo todos os níveis da consciência, não apenas os níveis superficiais, mas os ocultos, as atividades dissimuladas mais profundas. Para reconhecermos essas actividades, os motivos escondidos, as reações, os pensamentos e os sentimentos, tem de haver tranquilidade, serenidade na mente consciente para que possa receber a projeção do inconsciente. A mente superficial e consciente está ocupada com as suas atividades diárias, como ganhar a vida, com o enganar os outros, explorando os outros, fugindo … Esta mente não pode encontrar a tranquilidade, essa quietude, através de métodos, por compulsão ou por disciplina. Ela atinge a tranquilidade, a paz, a quietude, apenas pela compreensão das suas próprias atividades, pela observação dessas ideias, pela atenção a elas, vendo a sua crueldade, o modo como se fala a um empregado, à mulher, à filha, à mãe, etc…. Através da compreensão ela torna-se espontaneamente quieta, não drogada pela compulsão ou manipulada pelo desejo; está então em posição de receber a mensagem, os sinais do inconsciente, vindos dos muitos e ocultos níveis da mente (assim como existem as fezes sociais, há também os intelectuais e a inconsciência social) – os instintos raciais, as memórias enterradas, as perseguições dissimuladas, as feridas profundas ainda por cicatrizar. Só então, quando tudo já se projetou e foi compreendido, quando toda a consciência se livrou dos fardos, das feridas, de qualquer memória, é que a mente está em condições de receber o Eterno…” K e J

“As palavras “vós” e “eu” distinguem as coisas. Essa divisão não existe nesta quietude e neste estranho silêncio. À medida que olhávamos pela janela parecia que o tempo e o espaço tinham chegado ao fim, e o espaço que divide não tinha qualquer realidade. Aquela folha, o eucalipto, a água resplandecente não eram diferentes de vós.
A meditação é realmente muito simples. Nós complicámo-la movendo uma teia de ideias em torno disso – em termos do seja ou deixe de ser – porém não se trata de nenhuma dessas coisas. Mas porque é bastante simples escapa-nos, devido às nossas mentes se terem tornado demasiado complicadas e de se encontrarem gastas, fundadas como estão no tempo. Essa mente define a atividade do coração, o que faz com que o problema surja. Contudo a meditação sobrevém naturalmente e com extraordinária facilidade quando caminhamos pela areia (almoçamos à beira mar, lemos estas coisas…), ou olhamos por uma janela ou percebemos as colinas maravilhosas queimadas pelo sol do verão passado.
Porque somos seres humanos torturados de lágrimas nos olhos e riso constrangido nos lábios? (Talvez pelo estúpido egoísmo de tantos ainda; pelo amor incondicional de outros…) Se pudésseis percorrer a sós aquelas colinas ou os bosques, as extensas areias brancas, nessa solidão saberíeis o que é a meditação. O êxtase da solidão sobrevém quando deixamos de estar assustados por nos sentirmos sós – não mais percebendo o mundo ou o que quer que seja, por causa do apego. Então, à semelhança do despontar do dia que sucedeu hoje, ele sobrevém silenciosamente traça um trilho dourado no próprio silêncio, silêncio que existia no princípio (se é que houve princípio), que ocorre agora e que sempre existirá” K e J

“Meditação não é concentração – com sua exclusão – nem corte de separação, nem um ato de resistência ou conflito. A mente meditativa pode concentrar-se, mas nesse caso não se trata de um acto de exclusão nem de resistência; porém, uma mente concentrada não é capaz de meditar.
Na compreensão da meditação existe amor, mas esse amor não é produto de sistemas, nem de hábitos, nem de seguir um método. O amor não pode ser cultivado pelo pensamento. O amor pode talvez chegar a existir quando há completo silêncio, um silêncio no qual o meditador está completamente ausente; mas a mente só pode ficar em silêncio quando compreende o seu próprio movimento como pensamento. Para compreendermos este movimento do pensamento e do sentimento não pode haver condenação na observação. Observar desse modo é disciplina e essa forma de disciplina é fluida e livre, e não a disciplina do ajustamento (ou reformas).
A meditação é um movimento no e do Desconhecido. Vós não estais lá mas tão só o movimento que existe. Nós somos demasiado insignificantes ou demasiado importantes para esse movimento. Ele não tem nada por detrás nem defronte. É essa energia que o pensamento e a matéria não pode tocar. O pensamento é perversão pois é um produto do ontem; está preso na lide dos séculos e portanto é confuso e obscuro. Façamos o que fizermos, o conhecido não pode chegar ao desconhecido. Meditação é o terminar do desconhecido.” K e j

Thursday, 6 May 2010

“… E não a descrença em Deus.
Todos nós acreditamos de modos diferentes, mas a crença não tem qualquer realidade. A realidade é aquilo que cada um é, o que cada um faz, pensa, e acreditar em Deus é um mero escape para a nossa monótona, estúpida e cruel existência. Mais, a crença invariavelmente divide as pessoas: há o hindu, (o muçulmano), o budista, o cristão, (o judeu), o comunista, o socialista, o capitalista, e tudo o resto. A crença e a ideia dividem; nunca levam as pessoas a estarem unidas. Algumas pessoas podem juntar-se e formar um grupo; mas esse grupo acaba por se opor a outro grupo. Ideias e crenças nunca são unificadoras; pelo contrário, elas são separativas, desintegradoras e destrutivas. Portanto, a crença em Deus está de fato a espalhar a infelicidade no mundo; embora essa crença nos traga consolo momentâneo, ela na realidade traz mais sofrimento e destruição na forma de guerras, fome, divisão de classes e a impiedosa ação de indivíduos que se põem à parte. Assim, a crença não tem validade alguma. Se acreditamos realmente em Deus, se isso é uma experiência(?) real para nós, então há um sorriso na nossa face; e não destruímos os outros seres humanos.
O que é a Realidade? O que é Deus? Deus não é a palavra, a palavra não é a realidade. Para conhecer isso que é imensurável, que não está no tempo, a mente tem de estar liberta do tempo, quer dizer, a mente tem de se libertar de todo o pensamento, de todas as ideias acerca de Deus. O que sabemos nós sobre Deus ou a Verdade? Não sabemos realmente nada sobre essa Realidade. Tudo o que conhecemos são palavras, são experiências de outros ou alguns momentos de experiências pessoais (até estas experiências tendo muito pouco ou nada a ver com Deus). Claro que isso não nos dá a conhecer Deus, não é a Verdade, isso não está para além do tempo, temos de compreender o processo do tempo, tempo sendo pensamento, sendo o processo de «vir a ser», sendo acumulação de conhecimentos. Isso é tudo o que está por detrás da mente; a mente, em si, é esse fundo(background), é o consciente e o inconsciente, é o coletivo e o individual. Assim, a mente tem de estar livre do conhecido, isto é, ela tem de estar completamente em silêncio, não FORÇADA ao silêncio. A mente que é forçada, controlada, moldada, posta dentro de limites e mantida quieta, não é uma mente em paz. Podemos ter sucesso por algum tempo em forçar a mente a ser superficialmente silenciosa, mas tal mente não é uma mente serena. A serenidade só acontece quando compreendemos todo o processo do pensamento, porque compreender esse processo é acabar com ele, e na cessação do processo do pensamento está o começo do silêncio.
Só quando a mente está completamente em silêncio, não apenas a um nível superficial mas a um nível profundo da consciência – só então o desconhecido pode manifestar-se. O Desconhecido não é algo para ser experimentado pela mente; apenas o silêncio e só o silêncio pode ser experienciado. Se a mente experimenta o que quer que seja que não o silêncio, é porque está simplesmente a projetar os seus próprios desejos (daqui o mal da experiência da ilusão dos desejos…), e uma tal mente não está em silêncio. Silêncio é a libertação do passado, dos conhecimentos, de memórias conscientes e inconscientes; quando a mente está em completo silêncio, em não funcionamento, quando há silêncio que não é produto do esforço, então o Intemporal, o Eterno dá-se a mostrar. Esse estado não é um estado para lembrar – não há qualquer entidade a recordá-lo, a experimentá-lo.
Portanto, Deus, a Verdade, chamemos-lhe o que quisermos, é algo que se manifesta a todo o momento, e isso só acontece num estado de liberdade e de espontaneidade, não quando a mente é disciplinada de acordo com um padrão. Deus não é uma coisa da mente, não vem através da autoprojeção; só acontece quando há virtude, que é liberdade. Virtude é enfrentar o fato de que O QUE É, e enfrentar o FATO gera um estado de BÊNÇÃO. Quando a mente está nesse estado de profunda alegria, em paz, sem qualquer movimento, sem a projeção consciente ou inconsciente do pensamento – só então o ETERNO se manifesta.” – K e J
SOBRE A CRENÇA EM DEUS

Pergunta: Acreditar em Deus tem sido um poderoso incentivo para melhorar a vida. O senhor rejeita Deus, porquê? Por que não tenta restabelecer a fé do homem na ideia (como se a ideia fosse uma grande coisa!) em Deus?
K. – Olhemos para o problema de um modo aberto e inteligente. Eu não rejeito Deus – isso seria demasiado estúpido. Só o homem que não conhece a realidade (quase Deus) utiliza palavras sem significado (Deus?). Aquele que diz que sabe, não sabe; o que experiencia a Realidade a todo o momento não tem (todos?) os meios para comunicar essa realidade.
A crença é a negação da Verdade (o que faltava); a crença impede a Verdade; acreditar em deus é não encontrar Deus. Nem o crente nem o não-crente encontram Deus; porque a Verdade é Desconhecido, e acreditar ou não no desconhecido é uma projeção pessoal e portanto não é Real. Sei que você é crente, e sei também que isso tem pouco significado na sua vida.Há muita gente crente; milhões acreditam em Deus e nisso obtêm consolo. Primeiro que tudo, porque é crente? É crente porque isso lhe dá satisfação, coforto, esperança e, como você afirma, dá significado à vida. De fato, o seu acreditar tem muito pouco significado, porque acredita e explora os outros, acredita e mata, acredita num Deus universal e aceita que os homens se matem uns aos outros. O homem rico também acredita em Deus, ele explora sem piedade, acumula riqueza, e depois constrói um templo ou torna-se filantropo (benemérito!).
Os homens que largaram a bomba atómica em Hiroshima disseram que Deus estava com eles; aqueles que voaram de Inglaterra para destruir a Alemanha afirmavam que Deus era o seu co-piloto. Os ditadores, os primeiros ministros, os generais, os presidentes, todos eles falam de Deus, têm imensa fé em Deus. E estão eles a fazer o que devem fazer, construindo uma vida melhor para os seres humanos? As pessoas que afirmam acreditar em Deus já destruíram metade do mundo, e este planeta está uma completa desgraça. Através da intolerância religiosa criam-se divisões entre os povos, os que acreditam, os que acreditam e os que não acreditam (ou os que acreditam numa maneira e os que acreditam doutra maneira), o que conduz a guerras religiosas. Isso demonstra como as nossas mentes estão extraordinariamente politizadas.
Será que acreditar em Deus é «um poderoso incentivo para uma vida melhor»? Por que queremos nós um incentivo para viver melhor? Claro que esse incentivo dever ser o nosso próprio desejo de viver com higiene e com simplicidade (tudo o que vai para além disto, nomeadamente a acumulação, só pode prejudicar, porque não é justo), não é assim? Se procuramos um incentivo, é porque não estamos interessados em tornar a vida melhor para todos, estamos apenas interessados no nosso incentivo, que é diferente do de outra pessoa – e acabaremos por lutar por causa de um incentivo! Se vivemos em paz uns com os outros, não porque acreditamos mas porque somos seres humanos, então partilhamos todos os meios de produção com o objetivo de produzir coisas para toda a gente (e, vemos Deus!). Devido à falta de inteligência, aceitamos a ideia de uma superinteligência a que chamamos «Deus»; mas esse «Deus» não nos vai proporcionar uma vida melhor. O que conduz a uma vida melhor é a Inteligência; e não pode existir inteligência-Deus, se houver crença, se houver divisões sociais (até e nas igrejas, nos partidos, nos clubes, nos países, nos blocos!...), se os meios de produção (e distribuição) estiverem nas mãos de poucos indivíduos, se existirem nações isoladas e governos soberanos. Tudo isto indica falta de inteligência e é a falta de inteligência que está a impedir uma vida melhor…” K , J e Editorial Presença

Wednesday, 5 May 2010

“ … Para compreendermos uma relação, tem de haver uma atenção passiva – a qual não destrói a relação (já tal não acontece quando criticamos com a intenção de moldar, de interferir… o que gratifica, mas, também causa conflito, dor). Pelo contrário, essa atenção torna a relação mais viva, com mais significado. Há então nessa relação a possibilidade de uma afeição real; há uma vivacidade, uma intimidade que não é mero sentimento ou sensação. Se assim nos aproximamos ou estamos em relação com tudo, então os nossos problemas são facilmente resolvidos – os problemas que têm a ver com propriedade, com posse, porque somos aquilo que possuímos. O homem que possui dinheiro é esse dinheiro. O homem que se identifica com a sua propriedade é a propriedade ou a casa ou a mobília. Do mesmo modo se passa com ideias ou com pessoas; quando há possessividade, não há nenhum relacionamento. Muitas pessoas possuem coisas porque não possuem mais nada se não tiverem coisas. Somos conchas vazias se não tivermos coisas, se não enchemos a nossa vida com mobília, conhecimentos, com isto ou com aquilo. E cada concha faz muito barulho, e a esse barulho chamamos viver; e com isso (deveras muito pouco, certo?) nos satisfazemos. Quando há uma rotura, uma separação, então surge o sofrimento porque de repente descobrimos aquilo que realmente somos – uma concha vazia, sem muito sentido. Temos de estar atentos a todo o conteúdo da(s) relações e isso é ação; a partir dessa ação há a possibilidade de uma verdadeira relação, há a possibilidade de descobrirmos a grande profundidade da relação, o seu grande significado, há a possibilidade de conhecermos o Amor”

In: O Sentido da Liberdade, de Krishnamurti, da Presença
“ … Para compreendermos uma relação, tem de haver uma atenção passiva – a qual não destrói a relação (já tal não acontece quando criticamos com a intenção de moldar, de interferir… o que gratifica, mas, também causa conflito, dor). Pelo contrário, essa atenção torna a relação mais viva, com mais significado. Há então nessa relação a possibilidade de uma afeição real; há uma vivacidade, uma intimidade que não é mero sentimento ou sensação. Se assim nos aproximamos ou estamos em relação com tudo, então os nossos problemas são facilmente resolvidos – os problemas que têm a ver com propriedade, com posse, porque somos aquilo que possuímos. O homem que possui dinheiro é esse dinheiro. O homem que se identifica com a sua propriedade é a propriedade ou a casa ou a mobília. Do mesmo modo se passa com ideias ou com pessoas; quando há possessividade, não há nenhum relacionamento. Muitas pessoas possuem coisas porque não possuem mais nada se não tiverem coisas. Somos conchas vazias se não tivermos coisas, se não enchemos a nossa vida com mobília, conhecimentos, com isto ou com aquilo. E cada concha faz muito barulho, e a esse barulho chamamos viver; e com isso (deveras muito pouco, certo?) nos satisfazemos. Quando há uma rotura, uma separação, então surge o sofrimento porque de repente descobrimos aquilo que realmente somos – uma concha vazia, sem muito sentido. Temos de estar atentos a todo o conteúdo da(s) relações e isso é ação; a partir dessa ação há a possibilidade de uma verdadeira relação, há a possibilidade de descobrirmos a grande profundidade da relação, o seu grande significado, há a possibilidade de conhecermos o Amor”

In: O Sentido da Liberdade, de Krishnamurti, da Presença

Tuesday, 4 May 2010

“Outros ribeiros e rios se lhe juntavam, porém tratava-se do rio principal entre os mais pequenos e os muito grandes. Caudaloso, estava em perpétuo movimento de auto-purificação; era uma bênção ver as suas águas douradas ao entardecer, por entre nuvens profusamente coloridas. O pequeno fiozinho de água, lá ao longe, por entre aquelas rochas gigantes que pareciam tão compenetradas em dar-lhe berço, constituía o começo ( não é sem início?) da sua vida, enquanto que o seu término (não é sem fim?) se situava para lá das suas margens, no mar. A meditação era aquele rio, só que não tinha (ou, e também não tinha) nem começo nem fim. Tivera início (ou não tivera início – paradoxo ou não, não interessa: o que interessa é o facto: o rio existe, rico, belo!), e o seu término… seria o seu próprio (re)começo. Não existia causa e o seu movimento era a sua renovação. Era sempre nova e nunca juntava para quando fosse velha (mas não bastará não juntar para não ficar velho), nem jamais se via manchada, por não ter raízes no tempo. É bom meditar sem esforço – sem esforço nenhum, aliás – começando (duvido muito que haja começo) como um fio e indo além do tempo e do espaço onde o pensamento e o sentimento não podem entrar e onde não há experiência.
A meditação não é nunca oração; a oração, a súplica, nasce da auto-piedade. Oramos quando estamos em dificuldades ou quando existe sofrimento, porém quando sentimos felicidade e alegria não há súplica (Há louvor e ações de graças, não é?). Essa auto-piedade tão intensamente embutida no homem, é a raiz da separação. Tudo quanto está separado, ou pensamos ser separado – mesmo pela procura da identificação com algo que não o seja – traz somente mais divisão e dor. Dessa confusão fazemos brotar o nosso clamor para os céus, para o nosso marido (ou esposa, mãe, amigo, filho(a)…) ou para uma divindade da mente, esse choro pode encontrar uma resposta, porém essa resposta é um eco da auto-piedade (mais conflito?), em meio a essa separatividade. O isolamento do pensamento sempre se situa do campo do conhecido; a resposta à oração é a resposta do conhecido. A meditação está longe disso; no seu campo não pode o pensamento penetrar. Não existe separatividade e, como tal, identidade nenhuma. A meditação está na abertura; nela o secretismo não tem lugar. Tudo permanece exposto e claro.
Então surge a beleza e o amor.
A meditação não constitui um meio para um fim; antes é um movimento tanto no tempo como fora dele. Todo o sistema ou método alia o pensamento ao tempo. No entanto, a consciência sem escolha de cada pensamento ou sentimento, bem como a compreensão dos seus motivos e do seu mecanismo – ao permitir-lhe florescer – é o campo da meditação. Quando o pensamento e o sentimento desabrocham e morrem, a meditação torna-se no movimento além do tempo. E nesse movimento existe êxtase. No esvaziamento completo existe amor, e com amor existe destruição e criação.
A ambição é isolamento. A ambição individual ou coletiva sob qualquer forma conduz inevitavelmente ao antagonismo e a ódios auto-encarceradores. Quando a família se torna sobremodo importante, então isso vai de encontro ao vizinho do lado ou ao vizinho de longe, e atenta contra a humanidade. Ambição por coisas mundanas ou pela diferença é a mesma coisa, embora pareça diferente. A natureza da ambição é conflito mas o conflito (não a destruição amorosa?) sobre qualquer forma que se apresente, põe fim à bondade e ao amor.” - K