Thursday, 6 May 2010

“… E não a descrença em Deus.
Todos nós acreditamos de modos diferentes, mas a crença não tem qualquer realidade. A realidade é aquilo que cada um é, o que cada um faz, pensa, e acreditar em Deus é um mero escape para a nossa monótona, estúpida e cruel existência. Mais, a crença invariavelmente divide as pessoas: há o hindu, (o muçulmano), o budista, o cristão, (o judeu), o comunista, o socialista, o capitalista, e tudo o resto. A crença e a ideia dividem; nunca levam as pessoas a estarem unidas. Algumas pessoas podem juntar-se e formar um grupo; mas esse grupo acaba por se opor a outro grupo. Ideias e crenças nunca são unificadoras; pelo contrário, elas são separativas, desintegradoras e destrutivas. Portanto, a crença em Deus está de fato a espalhar a infelicidade no mundo; embora essa crença nos traga consolo momentâneo, ela na realidade traz mais sofrimento e destruição na forma de guerras, fome, divisão de classes e a impiedosa ação de indivíduos que se põem à parte. Assim, a crença não tem validade alguma. Se acreditamos realmente em Deus, se isso é uma experiência(?) real para nós, então há um sorriso na nossa face; e não destruímos os outros seres humanos.
O que é a Realidade? O que é Deus? Deus não é a palavra, a palavra não é a realidade. Para conhecer isso que é imensurável, que não está no tempo, a mente tem de estar liberta do tempo, quer dizer, a mente tem de se libertar de todo o pensamento, de todas as ideias acerca de Deus. O que sabemos nós sobre Deus ou a Verdade? Não sabemos realmente nada sobre essa Realidade. Tudo o que conhecemos são palavras, são experiências de outros ou alguns momentos de experiências pessoais (até estas experiências tendo muito pouco ou nada a ver com Deus). Claro que isso não nos dá a conhecer Deus, não é a Verdade, isso não está para além do tempo, temos de compreender o processo do tempo, tempo sendo pensamento, sendo o processo de «vir a ser», sendo acumulação de conhecimentos. Isso é tudo o que está por detrás da mente; a mente, em si, é esse fundo(background), é o consciente e o inconsciente, é o coletivo e o individual. Assim, a mente tem de estar livre do conhecido, isto é, ela tem de estar completamente em silêncio, não FORÇADA ao silêncio. A mente que é forçada, controlada, moldada, posta dentro de limites e mantida quieta, não é uma mente em paz. Podemos ter sucesso por algum tempo em forçar a mente a ser superficialmente silenciosa, mas tal mente não é uma mente serena. A serenidade só acontece quando compreendemos todo o processo do pensamento, porque compreender esse processo é acabar com ele, e na cessação do processo do pensamento está o começo do silêncio.
Só quando a mente está completamente em silêncio, não apenas a um nível superficial mas a um nível profundo da consciência – só então o desconhecido pode manifestar-se. O Desconhecido não é algo para ser experimentado pela mente; apenas o silêncio e só o silêncio pode ser experienciado. Se a mente experimenta o que quer que seja que não o silêncio, é porque está simplesmente a projetar os seus próprios desejos (daqui o mal da experiência da ilusão dos desejos…), e uma tal mente não está em silêncio. Silêncio é a libertação do passado, dos conhecimentos, de memórias conscientes e inconscientes; quando a mente está em completo silêncio, em não funcionamento, quando há silêncio que não é produto do esforço, então o Intemporal, o Eterno dá-se a mostrar. Esse estado não é um estado para lembrar – não há qualquer entidade a recordá-lo, a experimentá-lo.
Portanto, Deus, a Verdade, chamemos-lhe o que quisermos, é algo que se manifesta a todo o momento, e isso só acontece num estado de liberdade e de espontaneidade, não quando a mente é disciplinada de acordo com um padrão. Deus não é uma coisa da mente, não vem através da autoprojeção; só acontece quando há virtude, que é liberdade. Virtude é enfrentar o fato de que O QUE É, e enfrentar o FATO gera um estado de BÊNÇÃO. Quando a mente está nesse estado de profunda alegria, em paz, sem qualquer movimento, sem a projeção consciente ou inconsciente do pensamento – só então o ETERNO se manifesta.” – K e J

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