MEDITAÇÃO não é prece nem concentração
“… Nesta questão da prece há um outro fator envolvido: a resposta do que chamamos voz interior… (apesar da grande importância da auto-informação recebida pela percepção direta, instantânea do sub-consciente, quando a mente consciente fica muito quieta, serena, sem esforço, sem esmiuçar, a chamada «voz interior» pode ser, é geralmente fonte de engano, de ignorância de ilusão)… Quando a mente suplica, pede, está relativamente serena; quando ouvimos a voz interior, trata-se da nossa própria voz projetando-se a si mesma na mente mais ou menos tranquila. Essa voz tem muito pouco a ver com a Realidade, Deus. A mente confusa, ignorante, que se apega, que exige não pode compreender a Realidade… Só quando a mente está totalmente serena, quando o desejo cessa, só então a Realidade se manifesta.
A pessoa que pede, que suplica, que anseia por orientação, encontra aquilo que busca, mas isso não é a Verdade. O que recebe é a resposta dos níveis inconscientes da sua própria mente que se projetam a si próprios para dentro do consciente…
(Concentração esforçada também não é grande coisa, pois é exclusivista e distrai, contrariamente à atenção total, que, esta sim, tem muito a ver com a meditação). Na concentração tentamos concentrar-nos em algo em que não estamos interessados, e os nossos pensamentos continuam a multiplicar-se, a aumentar, a interromper, e assim gastamos a nossa energia a excluir, a desviar, a empurrar… Seguramente que isso não é meditação, não é verdade?...
Assim, o que é meditação? Seguramente que meditação é compreensão – meditação do coração é compreensão. Como pode haver compreensão se houver exclusão… Pedidos … Súplicas. Na compreensão há paz, há liberdade; daquilo que compreendemos ficamos libertos…. Prece e concentração somente conduzem à obstinação, à fixação, à ilusão. É a meditação, na qual há compreensão, que gera liberdade, luz e integração.
… Compreensão quer dizer dar o correto significado, o correcto valor a todas as coisas. Ser ignorante é atribuir valores errados; a própria natureza da estupidez é a falta da compreensão dos valores corretos. A compreensão acontece quando há valores corretos, quando estes se estabelecem.
… Aquele que pensa e meramente pede, reza ou exclui, sem se compreender a si mesmo, vai cair inevitavelmente em confusão, em ilusão.
O começo da meditação é o autoconhecimento, que é estarmos atentos a todo o momento ao movimento do pensamento e do sentir, conhecendo todos os níveis da consciência, não apenas os níveis superficiais, mas os ocultos, as atividades dissimuladas mais profundas. Para reconhecermos essas actividades, os motivos escondidos, as reações, os pensamentos e os sentimentos, tem de haver tranquilidade, serenidade na mente consciente para que possa receber a projeção do inconsciente. A mente superficial e consciente está ocupada com as suas atividades diárias, como ganhar a vida, com o enganar os outros, explorando os outros, fugindo … Esta mente não pode encontrar a tranquilidade, essa quietude, através de métodos, por compulsão ou por disciplina. Ela atinge a tranquilidade, a paz, a quietude, apenas pela compreensão das suas próprias atividades, pela observação dessas ideias, pela atenção a elas, vendo a sua crueldade, o modo como se fala a um empregado, à mulher, à filha, à mãe, etc…. Através da compreensão ela torna-se espontaneamente quieta, não drogada pela compulsão ou manipulada pelo desejo; está então em posição de receber a mensagem, os sinais do inconsciente, vindos dos muitos e ocultos níveis da mente (assim como existem as fezes sociais, há também os intelectuais e a inconsciência social) – os instintos raciais, as memórias enterradas, as perseguições dissimuladas, as feridas profundas ainda por cicatrizar. Só então, quando tudo já se projetou e foi compreendido, quando toda a consciência se livrou dos fardos, das feridas, de qualquer memória, é que a mente está em condições de receber o Eterno…” K e J
“As palavras “vós” e “eu” distinguem as coisas. Essa divisão não existe nesta quietude e neste estranho silêncio. À medida que olhávamos pela janela parecia que o tempo e o espaço tinham chegado ao fim, e o espaço que divide não tinha qualquer realidade. Aquela folha, o eucalipto, a água resplandecente não eram diferentes de vós.
A meditação é realmente muito simples. Nós complicámo-la movendo uma teia de ideias em torno disso – em termos do seja ou deixe de ser – porém não se trata de nenhuma dessas coisas. Mas porque é bastante simples escapa-nos, devido às nossas mentes se terem tornado demasiado complicadas e de se encontrarem gastas, fundadas como estão no tempo. Essa mente define a atividade do coração, o que faz com que o problema surja. Contudo a meditação sobrevém naturalmente e com extraordinária facilidade quando caminhamos pela areia (almoçamos à beira mar, lemos estas coisas…), ou olhamos por uma janela ou percebemos as colinas maravilhosas queimadas pelo sol do verão passado.
Porque somos seres humanos torturados de lágrimas nos olhos e riso constrangido nos lábios? (Talvez pelo estúpido egoísmo de tantos ainda; pelo amor incondicional de outros…) Se pudésseis percorrer a sós aquelas colinas ou os bosques, as extensas areias brancas, nessa solidão saberíeis o que é a meditação. O êxtase da solidão sobrevém quando deixamos de estar assustados por nos sentirmos sós – não mais percebendo o mundo ou o que quer que seja, por causa do apego. Então, à semelhança do despontar do dia que sucedeu hoje, ele sobrevém silenciosamente traça um trilho dourado no próprio silêncio, silêncio que existia no princípio (se é que houve princípio), que ocorre agora e que sempre existirá” K e J
“Meditação não é concentração – com sua exclusão – nem corte de separação, nem um ato de resistência ou conflito. A mente meditativa pode concentrar-se, mas nesse caso não se trata de um acto de exclusão nem de resistência; porém, uma mente concentrada não é capaz de meditar.
Na compreensão da meditação existe amor, mas esse amor não é produto de sistemas, nem de hábitos, nem de seguir um método. O amor não pode ser cultivado pelo pensamento. O amor pode talvez chegar a existir quando há completo silêncio, um silêncio no qual o meditador está completamente ausente; mas a mente só pode ficar em silêncio quando compreende o seu próprio movimento como pensamento. Para compreendermos este movimento do pensamento e do sentimento não pode haver condenação na observação. Observar desse modo é disciplina e essa forma de disciplina é fluida e livre, e não a disciplina do ajustamento (ou reformas).
A meditação é um movimento no e do Desconhecido. Vós não estais lá mas tão só o movimento que existe. Nós somos demasiado insignificantes ou demasiado importantes para esse movimento. Ele não tem nada por detrás nem defronte. É essa energia que o pensamento e a matéria não pode tocar. O pensamento é perversão pois é um produto do ontem; está preso na lide dos séculos e portanto é confuso e obscuro. Façamos o que fizermos, o conhecido não pode chegar ao desconhecido. Meditação é o terminar do desconhecido.” K e j
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