AMAZONAS...
Atalanta e Meleagro
Meleagro era filho da rainha Alteia, de Cálidon, mas o pai era Ares, o deus da guerra, e não o marido de Alteia, o rei Eneu. Quando Meleagro nasceu, as três Parcas apareceram na cama de Alteia. A mais nova, Cloto que fia o fio da vida, profetizou que o bêbe seria um homem de coragem e de ações nobres. A mulher adulta, Láquesis, que tece as malhas da vida humana, profetizou que ele viria a ser um herói de grande renome. A mais velha das parcas, Átropo, que corta o fio da vida, olhou para o lume, onde ardia um tronco e profetizou que ele viveria até que o tronco ardesse completamente. Alteia saltou da cama, afastou o tronco do lume, e depois escondeu-o no palácio, esperando que nunca mais fosse encontrando.
Meleagro cresceu dedicou-se à caça. Quando era um jovem, chegou a Cálidon um javali selvagem, que tinha sido enviado por Ártemis (Diana), a deusa da caça, que estava zangada com o rei Eneu por ele ter se esquecido de fazer sacrifício em sua honra. Ninguém podia apanhar o javali ou matá-lo, e Meleagro decidiu convocar todos os caçadores gregos em Cálidon. Vieram muitos heróis para apanhar o javali. Héracles (Hércules) não foi por estar ocupado com os trabalhos, mas Jasão e Teseu e alguns Argonautas estiveram presentes. A caçadora Atalanta também foi para Cálidon, tendo causado muitas desavenças entre os caçadores, que não queriam ver mulheres metidas na questão. Meleagro insistiu para que Atalanta fosse autorizada a caçar, porque a seta do deus do amor lhe tinha atingido o coração ao vê-la pela primeira vez.
Quando Atalanta nasceu, o pai tinha ficado desapontado por não ser um rapaz e ordenou que ela fosse exposta a montanhas mais próximas. Foi salva de morte certa por uma mãe ursa que a amamentou e, mais tarde, foi encontrada por caçadores que a educaram. Atalanta cresceu, tornou-se uma excelente corredora e jurou que só casaria com um homem que a ultrapassasse numa corrida. As condições impostas para a corrida eram difíceis, pois ela achava-se no direito de matar todos que falhassem. Muitos homens foram tentados pela beleza de Atalanta e todos eles morreram com a seta dela no coração. Meleagro não tece tempo de a desafiar para uma corrida a pé, mas esforçou-se por se manter ao lado dela durante os seis dias da caçada. Por fim, ambos mataram o javali, tendo Atalando alvejado o animal com uma seta e Meleagro cortado o pescoço. Era altura de festejar! Houve um banquete em que foi apresentada a cabeça do javali e a pele para o vencedor. Meleagro, por direito, deveria ter ficado com os prêmios, visto que tinha sido ele a disparar o arco que de fato matou o javali, mas ofereceu tudo a Atalanta. Os festejos tornaram-se numa discussão furiosa entre os caçadores, a que se seguiu uma luta, tendo Meleagro acabado por matar os tios, que eram também irmãos de Alteia.
O palácio estava numa barafunda. Alteia lançou-se ao chão com o desgosto e fúria e implorou ao Hades (Plutão) e Perséfone (Proserpina) para que o filho se juntasse a eles no mundo dos mortos, tão depressa quanto possível. A seguir foi para o quarto, onde ela tinha escondido o tronco retirado do lume e que agora se achava dentro de uma arca envolto em tecidos de lã. Então, Alteia pegou nele e atirou-o para o fogo, Meleagro sentiu chamas atacarem-lhe os membros, depois subirem-lhe ao coração e, a seguir estava morto. A mãe enlouquecida tinha-o matado!
Atalanta e as maçãs
Após a desastrosa caçada de Cálidon, outros pretendentes desafiaram Atalanta para uma corrida a pé, conquistado assim a morte, pois não havia ser humano que corresse tão depressa como esta favorita da deusa Ártemis. A certa altura, o primo Melanion apaixonou-se por ela e pensou maduramente na corrida que tinha de disputar para a poder ter. Concluiu então que só poderia vencê-la com um artifício e pediu ajuda à deusa do desejo sexual, Afrodite (Vênus). Esta já estava muito impaciente com a atitude de Atalanta para com os pretendentes, pelo que desceu do Olimpo para dar a Melanion três maçãs, frutos irresistivelmente belos que ela tinha pedido a Dioniso (Baco).
- Use-as com cabeça e Atalanta será tua! – Afirmara a deusa.
Chegou o dia da corrida e Melanion colocou-se na linha de partida, com as maçãs nas mãos. Atalanta preparava-se para troçar dele e para lhe perguntar se ele achava que com os pesos nas mãos corria mais depressa, mas nessa altura viu as maçãs mais de perto e ficou impressionada com seu brilho dourado. Quando a corrida terminasse e ele estivesse morto, pensou ela, ficaria com as maçãs, pelo que prometeu correr ainda mais depressa para garantir a posse daquelas maravilhas douradas.
A corrida começou e Atalanta lá ia sempre à frente de Melanion, até que ele atirou uma das maçãs na direção dela, mas para fora do trajeto da corrida. Incapaz de lhe resistir, Atalanta saiu do trajeto para a ir apanhar, o que conseguiu. Voltou de novo ao percurso e não tardou a ultrapassar Melanion. Então ele atirou a segunda maçã e lá foi ela atrás da fruta, saindo do percurso da corrida para a apanhar. Nesta altura Melanion ia novamente a frente e a corrida estava prestes a terminar, mas, apesar disso, ela era suficientemente rápida para o apanhar e matá-lo. Só que surgiu a terceira maçã e os pés de Atalanta saíram do trajeto como se fosse corrida da sua vida. Estava de novo para trás, correndo mais rapidamente do que nunca, mas Melanion estava já na linha de chegada. A corrida terminou e ele ganhou a noiva.
Fonte: http://flaviasilva.wordpress.com/2008/11/06/mito-de-atalanta/
Página Principal
Introdução
Cosmogonia
1ª Fase do Universo
1ª Geração Divina
2ª Geração Divina
3ª Geração Divina
Heróis
Mitos
Banco de Imagens
Civilização Grega
- Todos os Mitos -
O Rapto de Europa
Hera, Rainha
Hermafrodito
O Velocino de Ouro
Nasc. de Afrodite
Nasc. de Apolo
Nasc. de Hermes
Nasc. de Hefesto
Nasc. de Atena
Posídon
Nasc. de Dioniso
Dioniso Aprisionado
Ares, Deus Guerra
Meleagro Atalanta
As asas de Ícaro
Queda Faetonte
Deucalião e Pirra
Rapto Ganimedes
Castigo Eresictão
Rapto Perséfone
Medusa
Posídon e Anfitrite
Castigo Quelone
Filemon e Baucis
Argos e Io
Javali de Calidon
Toque de Midas
Alceste e Admeto
O Javali de Calidon
Sete dias haviam passado desde o nascimento do pequeno Meleagro. Sua mãe, Altéia, recuperava-se do parto. Altéia era casada com Enéas, o rei de Calidon, que estava muito feliz com o nascimento do filho. A noite já caira sobre o palácio, quando a jovem mãe recebeu a visita inesperada das Moiras, as deusas que presidem ao destino. Eram três irmãs e andavam sempre juntas. Sua ocupação incessante era fiar e desfiar o destino dos mortais.
— Rainha, viemos até aqui para lhe dar um trágico aviso — disse Cloto, uma das Moiras, sem desviar os olhos do seu trabalho de tecelã. Altéia ergueu a cabeça do encosto de seu divã, encarando-as, assustada. — Um trágico aviso? — disse ela, voltando-se imediatamente para o berço, onde seu filho dormia sossegadamente. — É exatamente sobre este inocente — disse a outra Moira, que se chamava Laquesis e cuja atribuição era marcar o número exato dos dias de vida que cabem a cada mortal.
— Não...! — exclamou a rainha, lançando-se aos pés do berço. — Veja aquele tição que arde na lareira — disse Atropos, a terceira Moira, responsável por cortar o fio da vida humana, quando ela chega ao seu final. — O tempo de vida de seu filho não será mais longo do que o tempo que aquele tição levar para arder até o fim!
Altéia, apavorada, lançou-se até a lareira. De joelhos, diante das chamas, introduziu a trémula mão dentro das brasas, tirando dali o tição fatal. Em seguida, apagou-o nas dobras de suas vestes. Quando se voltou, porém, as três mensageiras já haviam desaparecido. Imediatamente correu para o quarto e guardou o tição apagado, com todo o cuidado, no seu baú mais secreto.
Muitos anos se passaram. Meleagro teve uma infância feliz e cresceu até tomar-se um jovem robusto e saudável. Um dia estava conversando com seu pai, Enéas, quando um escravo surgiu correndo, trazendo uma assustadora notícia. — Meu rei, um monstruoso javali está devastando todo o reino! — disse, com os olhos esgazeados e as mãos postas na cabeça. Meleagro ficou perplexo. Seu pai, no entanto, desconfiava já da razão daquela terrível praga. - Acho que sei o que é, meu filho — disse o rei, um tanto vexado. — Deve ser um castigo de Artemis, a cujo sacrificio faltei alguns dias atrás.
De fato, a deusa dos caçadores estava encolerizada com o rei de Calidon e por esta razão mandara o terrível javali para devastar, sem piedade, todas as plantaçöes e rebanhos que encontrasse pela frente. Tão grande era a fúria do anirnal, que os campos ficavam desertos depois da sua terrível aparição. O monstro já despedaçara diversos aldeões, invadindo ate mesmo as casas para matar e comer o restante de seus habitantes. Todo dia chegavarn às portas da cidade imensos contingentes de camponeses feridos em busca de refúgio.
Meleagro logo se prontificou a enfrentar a fera. — Deixe comigo, meu pai! — disse, feliz com a oportunidade de exercitar a sua juventude e valentia. — Cuidado, meu filho — advertiu o pai, que temia, na verdade, mnais a fúria da deusa do que a do próprio animal — Não se preocupe. Reunirei os melhores homens deste reino e juntos daremos caça ao monstro, até exterminá-lo.
Ernpolgado, o jovem retirou-se a toda pressa, subindo em seu cavalo para reunir seus companheiros de caçada. No mesmo dia estavam já todos à beira do campo, prontos para partir. Enéas, no entanto, aconselhou Meleagro a refrear o seu Ímpeto e a partir somente na manhã seguinte, pois seria suicídio enfrentar a fera durante a noite. Impacientes, os caçadores montararn um acampamento na saída da cidade, sem voltar às suas casas, tal a ânsia de darem caça ao terríivel javali. Entre eles havia personalidades famosas, como os irmãos Castor e Pólux, Jasão, Teseu, entre muitos outros. Também unidos ao grupo estavarn dois dos de Meleagro, irmãos de sua mäe Altéia. Misturada ao grupo havia, ainda, uma mulher. Seu norne era Atalanta, uma bela jovem, filha do rei da Arcadia. A bela moça trajava-se como uma amazona, com um dos peitos a descoberto, como é hábito naquelas valentes guerreiras.
Meleagro, tão logo a viu, apaixonou-se perdidarnente. Durante toda a noite tentou se aproxirnar dela, mas era sempre interrompido por alguem, de modo que teve de aguardar o outro dia para declarar-se. Quando o primeiro raio do sol surgiu no horizonte, já estavam todos em pé, tendo feito o desjejum sob a pálida luz da aurora. Atalanta estava a um canto, prendendo os cabelos com uma tiara, a fim de não ter a visão prejudicada. Antes que Meleagro pudesse conversar com ela, a jovem montou agilmente sobre o dorso de seu cavalo, deixando à mostra suas coxas bronzeadas e firmes, cobertas por uma fina penugem dourada. O cavalo branco abriu os grandes dentes, mastigando o freio, enquanto Atalanta o conduzia para junto dos homens, que faziam retinir suas Ianças e seus arcos em meio à semi-escuridäo.
— Companheiros, é chegada a hora de enfrentarmos a fera! — gritou Meleagro, lançando um último olhar sobre Atalanta, que lhe devolveu um olhar intrigado. — Adiante, caçadores! — disse, esporeando sua montaria. O ruído intenso do galope das montarias feriu a manhã, como se um trovão partido do próprio solo se erguesse até às nuvens, levantando dos galhos das árvores uma multidão de aves assustadas.
Durante o trajeto, mata adentro, os caçadores cruzaram com diversos cadáveres de animais mortos, todos esquartejados. Mais adiante encontraram um boi partido ao meio, cuja cabeça pendia de um galho, como se a fera já soubesse da vinda dos caçadores e os aguardasse com aquele troféu macabro.
— Atenção, todos! — exclamou Meleagro, fazendo sinal para que suspendessem o galope — Creio que encontramos o covil da fera.
De fato, uma trilha de sangue conduzia para a entrada de uma gruta escura, que parecia ter sido aberta há pouco pelas presas imensas do anirnal. Um dos guerreiros desmontou e foi investigar a entrada. — Cuidado, vá com calma... — disse Teseu, que estava próximo. O bosque inteiro estava coberto de redes para apanhar o animal. Logo na saída da gruta estava montada a principal delas — uma grande tela de tecido reforçado, na qual o animal acuado acabaria, fatalmente, por se enredar, tão logo enveredasse para aquele lado.
O caçador aproximou-se ainda mais da entrada da gruta com uma tocha. Estavam todos esperando a saída do monstro quando, vindo por trás das costas de todos, o javali monstruoso surgiu, sem que ninguém o percebesse. Meleagro sentiu roçar-lhe nas pernas as cerdas eriçadas do javali, que num salto lançou-se às costas de um infeliz caçador, empurrando-o para dentro da gruta. Um horrível grito partiu de dentro da caverna, enquanto todos se acercavam de sua entrada, de lanças em punho. Teseu, desmontando, já ia entrando na gruta, quando o corpo do caçador foi arremessado para fora da caverna, em pedaços.
— Maldito assassino! — gritou Meleagro.
Atalanta, um pouco mais atrás, adiantou a sua montaria, colocando-se também na linha de frente, à espera da saída da fera. Os cães pulavam ao redor, esganiçando-se, quando o gigantesco javali surgiu finalmente da boca escura da caverna, num segundo arremesso que encheu a todos de assombro. O animal parecia ter asas. Mas foi somente quando ele se enredou nas malhas da rede que o aguardava na entrada de uma clareira que todos puderam avaliar o seu real tamanho. De fato, a sua estatura excedia a de qualquer outro javali jamais visto. Seus olhos despediam fogo, e uma baba leitosa pendia, espumante, de suas gigantescas presas, ainda vermelhas de sangue. Durou pouco, porém, a sua prisão, pois, debatendo-se com fúria sob as cordas, em poucos segundos as fez em pedaços, como se estivesse envolto por uma simples teia de aranha, arrancando pelas raízes as duas árvores que sustentavam a rede. Com outro rugido bestial — que pareceu a todos uma risada monstruosa — a fera arremessou-se para dentro da mata, metendo-se por entre os troncos grossos das árvores, enquanto ia limpando o terreno com suas presas, diante das quais nada resistia.
— Atrás dele! — rugiu Meleagro.
Um novo estrondo de cascos ressoou por toda a floresta. Uns cavalos, relinchando, lançaram-se num galope cego em meio às árvores, enquanto os cães iam à frente, de dentes arreganhados, parecendo disputar o privilégio de cravar primeiro os dentes no flanco do animal. Meleagro passou com sua montaria na dianteira, mas logo viu que o cavalo branco de Atalanta lhe ultrapassava. A guerreira mantinha as rédeas presas com duas voltas em sua mão direita e com a esquerda empunhava a lança. Logo atrás, os demais caçadores avançavam num estrépito de gritos e armas que fazia eco por todo o bosque. As árvores passavam numa velocidade vertiginosa. Já podiam divisar agora o javali, que tinha no seu encalço um dos cães. Mas, desejando livrar-se do cão, que já o mordera duas vezes, o javali deu uma cambalhota e foi parar um pouco mais adiante, de frente para seus perseguidores. O cão, surpreendido por aquela inesperada ofensiva, travou, a princípio, o passo. Em seguida avançou novamente, pronto para o corpo à corpo inevitávei. Infelizmente para ele, o combate era demasiado desigual. O javali, pelo menos sete ou oito vezes maior do que o valente cão, atracou-se com o seu agressor, deixando as presas de lado e cravando os dentes na cabeça do cachorro. Ouviu-se um ganido rápido e terrível, e logo o cadaver do cachorro era lançado ao chão, numa poça de sangue. Assim que terminou de matar o inimigo, o javali deu as costas outra vez aos seus perseguidores.
— Vamos lá! O maldito demônio está entrando naquela clareira! — berrou Meleagro. — Ali teremos espaço bastante para abatê-lo! As rédeas foram guiadas naquela direção, e logo todos os cavalos entravam no campo aberto, que mediava entre um bosque e o outro. As flechas partiam silvando dos arcos, passando como raios prateados sobre a cabeça dos cavaleiros que iam à frente. A pele do anirnal, entretanto, era muito grossa, e suas cerdas atuavam como um escudo, fazendo com que somnente algumas lhe penetrassem os flancos, o que não parecia lhe causar a menor dor, eletrizado que estava pela volúpia da fuga, que somente os animais verdadeiramente acuados conhecem.
Aos poucos, porém, o javali parecia perder o fôlego, deixando que os cavaleiros emparelhassem com ele. De fato, Meleagro já tinha a cabeça do animal quase ao alcance de sua lança. Mas a fera era esperta o bastante para desviar-se dos seus golpes. Em meio a correria, as patas de um dos cavalos ficou ao alcance das suas poderosas presas. O animal não desperdiçou a ocasião: mesmo na corrida, levantou o cavalo com um movimento extraordinariamente violento da cabeça, fazendo com que tanto o cavalo quanto o cavaleiro fossem arremessados para o ar, indo cair sobre os outros que vinham logo atrás. Atalanta, pressentindo uma sombra que descia do alto, ainda conseguiu, abaixando a cabeça, escapar do dorso do cavalo, que lhe passou rente aos cabelos. Uma seta disparada direto no olho do javali pela valente caçadora arrancou, finalmente, umn urro de dor do animal. Pela primeira vez o sangue espesso do monstro vertia em ondas pela campina. — Bravo! — gritou Meleagro, lisonjeando a amada. Atalanta, vermelha do esforço, prosseguiu, deixando escapar um discreto sorriso de satisfação.
O Javali, cego pelo próprio sangue e sentindo o seu fim próximo, decidiu parar e enfrentar os agressores, num combate suicida. Um dos cães arrancou-lhe uma das orelhas com uma dentada certeira, enquanto outro cravou os dentes em seu focinho, o que o fez urrar de dor e pisotear o agressor até a morte. Mas logo Meleagro aproximou-se e, procurando com calma enquanto os demais o atacavam às cegas, enxergou um espaço desprotegido no flanco do javali. Inclinando-se até sentir o cheiro do suor e do sangue do animal, Meleagro enterrou ali a sua lança, com toda a força de que era capaz. Porém o fez com tal vigor e determinação que sua mão raspou nas cerdas do javali, deixando ali raspas da sua pele. O javali tombou mortalmente ferido, escavando o chão com as patas. Os demais caçadores caíram em seguida sobre a presa, terminando de abatê-la. Atalanta tinha o seio descoberto rijo e lustroso de suor.
Meleagro, aproveitando o entusiasmo, uniu seu corpo ao dela, ainda em cima dos cavalos, num abraço audacioso e imprevisto, que a deixou confusa, sem saber se o repelia ou se o estreitava ainda mais. Meleagro, num pulo, sacou a espada, arrancou a pele do animal, bem como a enorme cabeça, e as ofereceu à sua amada, como prémio pela vitória. Os tios de Meleagro, no entanto, levantaram-se, indignados com aquela audácia: — Cale-se, Meleagro! — gritou enfurecido um deles. — Troféus não são para mulheres! Descendo do cavalo, o homem arrancou brutalmente das mãos de Atalanta o precioso troféu, num gesto que acendeu a ira do sobrinho. Instantaneamente, Meleagro, cego pela fúria, enterrou no peito do tio o aço inteiro da espada, fazendo o mesmo com o outro do, que tentava impedi-lo.
Enquanto isso, na cidade a noticia da vitória já chegara. Altéia, mãe de Meleagro, dirigiu-se ao templo para agradecer pela vitória do filho. No caminho, porém, cruzou com os corpos de seus dois irmãos. Espantada com a notícia de que Meleagro os havia abatido, Altéia, enfurecida, correu de volta para casa. Recolhida no seu quarto, viu a lareira acesa e imediatamente lembrou-se da profecia das Moiras. Num gesto de desespero, abriu o baú secreto onde mantinha guardado o tição fatal. Tendo nas mãos trêmulas o pedaço de madeira semicarbonizado, levou-o até às chamas. — Filho perverso, assassino de seu próprio sangue! — gritava, descabelando-se.
Consumida pela dúvida, porém, hesitou ainda quatro vezes antes de lançar o tição às chamas. Mas finalmente o jogou no fogo. — Que pague por seu crime, mesmo sendo meu próprio filho! — exclamou Altéia. Enquanto tentava convencer a si mesma da justiça de seu ato, as chamas devoraram o tição. Meleagro, longe dali, agonizou sob a dor terrível das chamas, sem saber que sua própria mãe era a causadora de sua morte. Atalanta, segurando-o em seus braços, recebeu na face o último e ardente suspiro do filho de Altéia.
A notícia da morte de Meleagro correu como o vento por todo o reino. Tomada pelo remorso, com o semblante alterado, Altéia correu para seus aposentos e enterrou uma longa adaga no coração. Antes mesmo de expirar, Altéia já estava morta.
- Todos os Mitos -
Por Odsson Ferreira
Fonte: http://www.templodeapolo.net/Mitologia/mitologia_grega/mitos/mitologia_grega_mitos_javali.html
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment