Wednesday, 25 February 2009

Sobreiro da Assumadeira
"Quando nos deslocamos na estrada que liga Montargil a Ponte de Sôr, após passarmos um dos braços da albufeira da barragem, vislumbramos do lado esquerdo da estrada um grande casario em ruínas, com dois silos que se elevam acima dos telhados, a lembrar outros tempos em que a agricultura representava uma maior importância na economia nacional e as gentes habitavam os campos, tirando deles o seu sustento. Este local é a entrada da Herdade de Montalvo, outrora propriedade de um grande agricultor e subericultor alentejano, o Senhor João Lopes Fernandes (1905-1973). A cerca de 500 metros do monte da herdade, ao virar de uma curva, confrontamo-nos com um velho sobreiro, todo revestido de cortiça virgem, com 6,8 metros decircunferência à altura do peito (1,30 m), 10 metros de altura e 25 metros de perímetro de copa – o Sobreiro da Assumadeira. Ao deparamo-nos com este sobreiro pela primeiravez, parece-nos que estamos perante um velho duende, saído de um conto de fadas, que teima em resistir ao passar do tempo, estendendo os seus enormes braços para as outras árvores suas companheiras, significativamente mais novas e já sem“cortiça branca”, estando em plena exploração suberícola. Uma das razões para essa estranha sensação mística é o facto de o terreno de volta deste colosso, que tem uma ligeira inclinação, estar bastante erosionado, ficando as suas raízes expostas, como umas garras que o prendem firmemente ao solo. Esta árvore monumental foi, ao longo de gerações, muito acarinhada pelos seus proprietários, sendo impedido o seu corte em períodos em que a sua madeira era muito valorizada, quer para a produçãode carvão quer para a manufactura de artefactos. A idade do Sobreiro da Assumadeira, perde-se no tempo, é possível que tenha mais de quinhentos anos,podendo ser contemporâneo dos portugueses que embarcaram em naus, construídas com grandes quantidades de madeira de sobreiro, em busca da Índia e do Brasil. Em 1957, João Lopes Fernandes, leva o ilustre Professor Joaquim Vieira Natividade a visitar as suas propriedades, demorando-se longamente no Sobreiro da Assumadeira. Natividade, que se distinguiu pelo excelente trabalho realizado no âmbito da fruticultura e da subericultura, tendo publicado o mais importante tratado de subericultura do mundo, retirou uma amostra de cortiça neste sobreiro, calculando que esta árvore não era descortiçada há cerca de 450 anos. Em 1960, J. Vieira Natividade publica o livro “Dévotion Subéricole – Les «Herdades» de «Leitões» et «Montalvo» de M. João Lopes Fernandes, da Academia das Ciências, uma tradução para o francês de um artigo publicado no Boletim da Junta Nacional da Cortiça, N.º 228, de Outubro de 1957, em que acrescenta algumas fotografias inéditas...Também a esposa do Prof. Natividade, D. Irene Natividade, sublimou a beleza desta árvore através de uma aguarela pintada por si, e que é actualmente propriedade da filha de João Lopes Fernandes, D. Joana Lopes Fernandes Pereira Lopes. Esta aguarela foi divulgada pelos seus proprietários através de um postal ilustrado, tendo anos mais tarde, em 2003, servido de inspiração para a criação do símbolo da Fundação João Lopes Fernandes, que visa honrar o trabalho realizado por este senhor, por parte de alguns dos seus descendentes, tendo como objectivoprimordial promover o fomento suberícola, a cortiça e todas as actividades tradicionalmente ligadas às florestas e "montados" do sobro, nas suas vertentes sócio-económicas e ambientais."
Fonte:fundacaojlf.no.sapo.pt/Boletim_Informativo_5.pdf

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